Trecho do prefácio de Lance S. Owens escrito para o livro de Alfred Ribi, “Turn fo an Age: The spiritual roots of jungian psychology in hermeticism, gnosticism and alchemy” [Virada de uma Era: As raízes espirituais da psicologia junguiana no hermetismo, gnosticismo e alquimia]; sem tradução oficial para o português. Em tradução livre por Lampeju.
Em novembro de 1960, sete meses antes de sua morte, C. G. Jung sofreu daquilo que chamou “a maré de sentimentos mais baixa que havia sentido até então”. Ele explicou o sentimento em uma carta endereçada a Eugene Rolfe:
“Eu tive que aceitar que fui incapaz de fazer as pessoas verem aquilo que eu estava buscando. Estou praticamente sozinho. Há alguns poucos que entenderam isso ou aquilo, mas quase ninguém é capaz de ver a totalidade… Eu falhei na minha principal tarefa: abrir os olhos das pessoas ao fato de que o homem tem uma alma e de que há um tesouro enterrado neste campo e que nossa religião e filosofia estão em um estado lamentável” [Eugene Rolfe, Encounter with Jung (Boston: Sigo Press, 1989), p. 158].
Olhando para trás, até a metade do último século, parece que Jung tinha razão em lamentar. Ele não foi completamente compreendido. Mas, a causa disso não está no extenso escopo ou no teor complexo de seus escritos. Em retrospecto, fica evidente que Jung não revelou tudo. Durante sua vida, Jung cuidadosamente e conscienciosamente escolheu não compartilhar publicamente a chave experiencial para sua vasta obra. Ele sabia que isso também não seria - pelo menos, não naquele momento - compreendido.
A chave perdida era, agora nós sabemos, o seu, por muito tempo escondido, Livro Vermelho, o trabalho formalmente chamado de Liber Novus, o “Livro Novo”. Iniciou-se quando Jung tinha trinta e oito anos de idade e baseia-se em experiências cuidadosamente registradas em seus diários entre 1913 e 1916, Liber Novus continha o testemunho de Jung de uma jornada transformadora pelas profundezas visionárias.
Quase um século após sua composição, a publicação em 2009 do Livro Vermelho: Liber Novus instigou uma ampla reavaliação sobre o lugar de Jung na história cultural. Em meio a várias revelações, os eventos visionários ali registrados demonstram a base experiencial da complexa associação entre Jung e a tradição da Gnose Ocidental.
Em 1951 Jung afirmou, “para os gnósticos - e este é o verdadeiro segredo deles - a psique existia como uma fonte de conhecimento” [Aion, CW 9ii, §174]. A experiência humana da psique como uma fonte de conhecimento era a matriz radical de uma prática perene que Jung identificou com a Gnose. A tradição Hermética e as tradições próximas a alquimia eram, na visão de Jung, manifestações históricas desta prática perene. Elas estão historicamente interligadas com a sua psicologia, formando uma corrente dourada que leva ao passado, até a Gnose nascida na virada da nossa época, dois mil anos atrás. Neste volume, Dr. Ribi fornece extensivas evidências textuais para apoiar a afirmação do Dr. Jung.
Zeitenwende [Ponto de inflexão] é o título original em alemão deste livro. A palavra literalmente significa “uma virada no tempo”. Isto implica um momento de mudança, assim como o momento em que as marés do oceano mudam, ou a virada anual da estação no natal. Historicamente denota a virada que marca o início da era Cristã. Jung sugere que estamos nos aproximando de outra Zeitenwende. Para entender o que nos aguarda em relação à próxima época, devemos compreender o que aconteceu na última grande virada de era há dois milênios atrás. Alfred Ribi, aqui se dedica a esta tarefa.
Lance S. Owens
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