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Interagindo com o crítico interno a nosso favor - Nina Zobarzo


(Ilustração: Crítico interno, autor Beto Rampazzo)


Sabe aquela "voz" em nossa cabeça que o tempo todo julga, condena, deprecia, critica tudo e todos, principalmente a nós mesmas, pondo em dúvida nossa capacidade, nosso potencial, diminuindo-nos até recuarmos e desistirmos de nossas iniciativas e manifestações criativas?


Pois é, este é o Crítico Interno, ou Barba Azul, ou Animus Negativo.


Para melhor compreensão, no momento em que me referir ao Animus, entendamos o mesmo como uma espécie de "Crítico Interno."


Esta "voz" se manifesta de inúmeras formas, aprisionando e ameaçando a vida criativa da mulher, até o ponto da estagnação.


Não raro e dependendo do núcleo familiar no qual esta mulher foi criada, apresenta-se com características que chamo de "inquisidoras", fazendo exigências de perfeição, comportamento cândido e santo, impondo ideais sobre-humanos, unilaterais, que agridem a humanidade desta mulher justamente por atentar contra aspectos que delatariam a sombra, tais como falhas, fragilidades e imperfeições. Não, "ele" não aceita imperfeição. Não aceita erros. Não aceita falhas. Não aceita a "sombra", que faz de nós seres humanos.


Em "Animus e Anima nos Contos de Fadas", Marie-Louise Von Franz, sugere: "As mulheres podem ser torturadas pelo animus, que lhes diz que elas são um fracasso completo, que sua vida acabou e agora é tarde demais. O que se deve fazer, nesse caso, é dizer: 'Muito bem, sou um fracasso. Não falemos mais disso'. É uma maneira de se afastar e, com isso economizar energia, engajando-se em outra coisa. É como jogar uma parte de si ao animus - deixá-lo comer essa parte e, assim, impedi-lo de atrapalhar nossas ações seguintes" (FRANZ, 2010, p. 43).


Isto seria, segundo a autora, fazer um sacrifício diante de algo que não pode ser extinto.


Segundo a Psicologia Complexa de Carl Jung, o ANIMUS é um Arquétipo, ou seja, inerente ao Inconsciente Coletivo, portanto não se pode "acabar com ele", não pode ser morto ou eliminado de nossas vidas. Pode-se apenas aprender a lidar com ele, sempre prezando por nosso feminino, fazendo com que ele volte a ocupar o espaço que lhe cabe em nossa psique, pois tanto mais o feminino recua, mais espaço é cedido ao animus.


"Há coisas sombrias que possuem qualidades numinosas que não podemos encarar; só podemos fazer sacrifícios por ela, o que significa reconhecer seu poder." (FRANZ, 2010, p. 39)


Em meu sentimento, o convite é para, no momento em que esta voz estiver nos coagindo, abrirmos mão de ter razão, dando a esta voz "algo de comer". Alimentada, ela se aquieta e podemos seguir em frente.


"Em muitos casos, fugir do inconsciente em certo aspecto é um ato tão heroico quanto conquistar o dragão." (FRANZ, 2010, p. 39)


Assim, a meu ver, este exercício nos permite tanto a diferenciação (o que sou eu-mulher e o que é o animus) quanto a fuga de algo que nos ameaça, mas não pode ser extinto, além da reconciliação com nossa humanidade, no momento em que diante das acusações do animus, substituimos a reação interna frequente de resistência, no exemplo acima: "Não, eu não sou um fracasso" por "Você tem razão, sou um fracasso" (não se tratando aqui de postura auto depreciativa, mas, dentro do contexto, de um sacrifício consciente). Neste ato, admitimos nossa parte humana e falha, abandonando ideais sobre-humanos na prática também da humildade, outra forma de se livrar da possessão, apontada por Von Franz na mesma obra.


Nina Zobarzo nasceu em Santiago do Chile e reside no Brasil desde os seis anos. É escritora, terapeuta naturopata, acupunturista e graduanda em Filosofia. Orienta seus estudos e sua expressão profissional principalmente ao universo feminino e à criança interior, temas que igualmente permeiam grande parte de seus escritos. Ministra cursos e workshops nesta sintonia, apontando sempre para o eixo "Mulher-Menina".

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