Conversando sobre o tarô: Alimento da alma - Christianne Aguiar
Atualizado: 11 de fev. de 2021
Tenho imenso prazer em abordar este tema, pois durante o percurso de vida, as 78 lâminas do tarô, ou melhor, sua riqueza inesgotável enquanto símbolo, sempre se fez presente, seja na busca interior própria ou de alguém que generosamente tenha arriscado, confiado e me convidado a realizar uma viagem “Mágica” ao “Desconhecido Íntimo”.

(Foto: Tarô de Marselha)
O termo oráculo, do latim õrãculum, deriva da palavra oração, que significa súplica, reza. Segundo Cunha (2010, p. 463) esta palavra também originou o vocábulo oral, oratória, e derivados. Quem sabe a necessidade de criação do termo oráculo nos seja a confirmação da tentativa de estabelecermos alguma comunicação com os deuses, de obtermos alguma resposta ou mesmo a autorização da resignação diante da própria jornada?
O oráculo é mais do que um instrumento de adivinhação, pois se estudado a sério, é algo que possibilita luz às questões mais profundas do momento presente. Acredito que o caminho se faz ao caminhar e que o mundo se construiu, e se transforma com o rico material inconsciente que nos atravessou e atravessa ao longo dos tempos, através dos sonhos, imagens, símbolos, arte, entre outras coisas.
Enfatizarei aqui – no Conversando sobre Tarô -, o conceito da Sincronicidade, produto da Energia Psíquica manifestada em fenômenos acausais, resultando em conjunto de coincidências significativas. Diante da vastidão de oráculos existentes, abordarei o tarô, suas origens, mitos, imagens e narrativas, elementos primordiais do psiquismo, verdadeira matéria prima, e que, por questões religiosas e pelo crescente racionalismo no Ocidente, o tarô foi difamado e “demonizado”, desaparecendo e ressurgindo na história por diversos momentos.
Como psicologia profunda, a Psicologia Analítica suscita o estudo do que está nas “entrelinhas”, dos aspectos luz e sombra, do pessoal e do coletivo e busca entrar em contato com a inteireza dos seres vivos, a Energia Psíquica proveniente no incessante trabalho do Si-mesmo, parece estar imbuída no ofício de promover uma espécie de “homeostase psíquica”.
No ano de 2014, realizei uma pesquisa acadêmica chamada Tarô: a experiência interior do homem através da sincronicidade. Em virtude do pouco material acadêmico encontrado para a realização da pesquisa, principalmente em âmbito nacional, utilizei em alguns momentos a descrição de alguns outros oráculos, como o I Ching, para desenvolver alguns pontos importantes.
Ao pesquisar o I Ching, encontrei um episódio curioso envolvendo os sacerdotes I Ching que lançavam moedas ou escolhiam hastes de milefólio na praça do mercado. Por algum tempo a prática oracular foi proibida, e, em 1960, um governante sentiu a necessidade de suavizar a pressão política racionalista sobre o povo que na época passava fome; para isso, teria que optar por duas possibilidades, que seria fornecer mais alimento, no caso arroz, ou legitimar novamente o uso do I Ching, “e todos aqueles a quem consultou disseram-lhe que o povo estava mais ansioso por voltar a usar o I Ching do que por obter mais alimento” (von FRANZ, 1980, p 12).
Talvez esse tipo de escolha – o alimento espiritual - seja característica do homem oriental. O fato é que, seja no Oriente ou no Ocidente, o primitivo que há em nós precisa de alimento, e essa é a grande motivação desse trabalho.
Com uma série de pequenos textos compartilharei uma síntese da pesquisa citada, e convido você para ingressar nessa jornada de leitura sobre o tarô e a Psicologia Analítica. Sigamos!
Christianne Aguiar
Referências Bibliográficas:
CUNHA, A. G. Dicionário etimológico da língua portuguesa. 4ª ed. Revista pela nova ortografia. Rio de Janeiro, RJ: Lexicon, 2010.
FRANZ, M. L. V. Adivinhação e sincronicidade: a psicologia da probabilidade significativa. São Paulo: Cultrix, 1980.