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Conversando sobre o Tarô: Origens - Christianne Aguiar


Ao pesquisar sobre a origem do tarô a resposta encontrada foi sempre a mesma, não ficando claro quem foi o primeiro idealizador, muito menos quando, onde e seu objetivo, embora a maioria dos livros sobre o tema tragam esta questão. Acredita-se que o Tarô existe há pelo menos 500 anos.


(...) Alguns alegam que a origem se encontra nos rituais religiosos e nos símbolos dos antigos egípcios; outros, nos cultos misteriosos de Mitra durante os primeiros séculos depois de Cristo. Ainda outros encontram paralelos com as crenças celtas pagãs ou com os ciclos da poesia romântica do Santo Graal que teriam surgido na Europa ocidental, na época medieval. Baseados no que é possível ver e tocar em museus, estudiosos mais sérios se concentram nas cartas de Tarô mais antigas, atualmente disponíveis, e acreditam que foram pintadas durante a Renascença. É claro que, se quisermos basear a nossa exploração das origens do Tarô em evidência comprovada, os primeiros baralhos de Tarô – aqueles que incluem tanto os quatro naipes do baralho quanto as estranhas imagens conhecidas como os Arcanos Maiores – surgiram durante a segunda metade do século XV e foram pintados na Itália. Existem dois desses baralhos: um deles é conhecido como o baralho de Carlos VI e o outro, como o baralho de Visconti-Sforza. (GREENE e SHARMAN-BURKE, 2008, p.13/14).


Com seu espírito dinâmico, a Renascença italiana trouxe muito do pensamento clássico grego, rompendo com a rigidez da visão de mundo trazida pela Idade Média e pôde brilhar, com esse movimento, o espírito animista da Grécia Antiga.

Em 1453, os turcos saquearam Constantinopla, possibilitando que as obras de alguns filósofos herméticos de Alexandria e do Oriente Médio, de Platão e de neoplatônicos chegassem ao Ocidente, posto que, com a invasão dos godos à Roma tais conteúdos haviam desaparecido. Em Florença, os governantes simpatizaram e acolheram tais obras e, com o recente invento da máquina de imprimir, logo os escritos se espalharam.

Se antes a arte estava voltada apenas para a temática religiosa, com a Renascença começam a aparecer imagens de deuses e deusas antigas, dividindo opiniões entre a visão pagã e a cristã. Todo esse movimento deu início ao encorajamento do desenvolvimento do indivíduo além dos dogmas estabelecidos pela Igreja durante séculos.


Esse é o momento histórico onde as cartas mais antigas de Tarô que temos conhecimento são datadas. Sob este contexto, conseguimos compreender a busca do homem por algo próprio, individual, o que, em contrapartida, gerou, por parte das autoridades religiosas, uma luta de contenção deste movimento.

Podemos concluir que, ao mesmo tempo em que um instrumento que viabiliza autoconhecimento como o Tarô ganhasse corpo no cenário do Renascimento, também é passível o entendimento do empenho de algumas autoridades – principalmente as religiosas – de continuar tornando-o “demoníaco” até que caísse em total descrédito.

Sabemos hoje que o material inconsciente negligenciado e não reconhecido torna-se “demoníaco”, pelo viés pessoal ou social. Tais mensagens inevitavelmente irromperão, trazendo grandes problemas a princípio, subjugando a parte consciente em nós.

Atualmente o que temos é um vasto repertório de baralhos de Tarô, que mesclaram-se ao longo do tempo com o pensamento cabalístico, com as novelas arturianas, dentre outros simbolismos.

Alguns dos baralhos mais conhecidos foram criados entre os séculos XVIII e XIX, por Arthur E. Waite e Aleister Crowley. Há também o Tarô de Marselha, ilustrado no século XVIII pelo artesão Fautrier.

As figuras do Tarô com suas imagens e símbolos aguçam a imaginação e evocam conteúdos, colaborando na compreensão de aspectos humanos, com dramas universais que capacitam o indivíduo a trilhar seu mito pessoal e singular.

A sincronicidade que se apresenta – na maioria das vezes – em uma abertura de cartas do tarô estremece os que estão disponíveis a sentir o chacoalhar da energia psíquica, essa força motriz que dá pistas do que somos e do caminho interno no processo de individuação.


No próximo “Conversando sobre o tarô” veremos como o mesmo dialoga com a Psicologia Analítica. Sigamos!



Christianne Aguiar é psicóloga e supervisora clínica, especialista em teoria e prática junguiana. Facilitadora de grupos de estudos. Apaixonada desde que veio ao mundo por oráculos, sendo consultora e professora de tarô. Nas horas vagas é arqueira.

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